Costumeiramente, dizemos que aprender uma língua estrangeira é preciso pensar “na língua”: pensar em inglês, pensar em alemão, italiano etc. Mas o que de fato é “pensar na outra língua”?
Primeiro, isso significa uma coisa importante: significa não pensar em português. Parece óbvio, mas vai de encontro ao fato de que, para falarmos um idioma, precisamos deixar de lado – ainda que por uns instantes – a nossa língua materna. Mas pensar o quê? O que é pensar a língua?
Pensar a língua significa ter pensamentos culturais diferentes do seu. É se colocar em um outra forma de pensamento que não o seu e do seu idioma maternal. É entender que idiomas são sistemas de mundo per si. Cada idioma e suas raízes resguardam dentro de si as mais intrínsecas e diferentes visões de mundo. O mundo criado pelo idioma português é diferente do mundo criado por outra língua estrangeira.
E como fazemos isso?
Como conseguimos entrar e adentrar em um outro sistema de pensamento?
Primeiro, é preciso abrir espaço ao novo: novas palavras, novos verbos, expressões. Por que eles dizem o que eles dizem e como dizem?
Um exemplo: em português, quando sentimos alguma dor, nós dizemos: eu estou com dor: de cabeça, de barriga, de garganta, nas costas etc. Em francês, não usamos o verbo estar para sentir dor e sim usamos o verbo ter e aqui não temos dor e sim temos mal, “avoir mal”: J’ai mal à: la tête, au ventre, à la gorge, aux dos, literalmente: tenho mal na cabeça, tenho mal na barriga, tenho mal na garganta, tenho mal nas costas.
Aqui depreendemos que os franceses e brasileiros não sentem dor da mesma maneira. Nós sentimos dor , eles sentem um mal.
Isso já muda a forma de pensamento do “sentir dor” e percepções distintas da saúde, do bem estar físico. Poderíamos citar milhares de exemplos trazendo essas distinções, mas há também similaridades, o que nos aproxima como povos de língua de origem latina.
O melhor ainda seria reflitir sobre o que é ser latino? Talvez aprendendo a se identificar como latino, no latu-senso da palavra, a gente teria uma facilidade muito maior pra aprender qualquer língua latina, justamente por conta desses pontos em comum.
Outra coisa que contribui para “pensar a língua” é ouvir, mas ouvir muito. Para “sair falando”, é 90% ouvir, o que a maioria das pessoas não quer fazer e por isso a sua dificuldade em não conseguir pensar em outra língua. Ouça, mesmo que não entenda, ouça muito: com legenda, sem legenda, só áudio, leitura em voz alta, enfim, qualquer coisa que se ouça.